A Revista Ara do Grupo Museu/ Patrimônio da FAU/USP informa que estarão abertas as inscrições para o envio de resenhas, artigos, ensaios visuais ou escritos entre 25 de novembro de 2016 a 25 de janeiro de 2017.
O tema será Tempo e Memória e todas as contribuições inéditas serão bem vindas e submetidas ao Conselho Editorial, de modo a manter a qualidade, que se persegue.
AS SUBMISSÕES DEVEM SER ENVIADAS PARA revistaarafau@usp.br
OBS: Só serão aceitos os artigos formatados no MODELO PARA SUBMISSÃO DE ARTIGOS acompanhados de AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO devidamente preenchida. Modelos disponíveis para download abaixo:
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Tempo, tempo, CHAMA tempo
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Caetano Veloso Oração ao tempo
A Revista ARA inicia chamada de artigos, ensaios escritos ou fotográficos, resenhas e notícias, pautados ao tema Tempo/Memória. Criada pelo Grupo Museu/Patrimônio/GMP, situa-se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/FAU da Universidade de São Paulo/USP, sendo digital e semestral. A data de lançamento obedece às estações e a próxima se dará no período outono/inverno de 2017. O nome ARA em si abriga Tempo, no tronco tupi-guarani e igualmente se refere, desde a Antiguidade, a altar, lugar em que se depositam anseios.
O calendário guarani acompanha o deslocar visível do sol, seccionado em dois tempos (ARA): o novo –ARA Pyau, a englobar primavera/verão e –ARA Ymã, outono/inverno. Assim o humano para transformar situações adversas e remotas observou, desenhou, criou, pensou e formulou noções voltadas a qualificar o tempo-vivido, o início ou a finitude. Tentava-se explicar oscilações em recursos encontrados para subsistir, provocar táticas e combater adversidades, de modo a resistir. Constituem estímulos para se guardar o que se aprendeu e garantir a comunidade eletiva, sendo fruto de lembranças e memória.
Tempo e Memória conduzem à ocupação do mundo pelo homem desde os primórdios, seja na condição de fundamento para o universo – o Cosmos – e pela sagração do solo, seja na Guarda e troca de saberes – os mitos – a criar entes e artefatos. Sobreviveram via inúmeras religiões, que os sucederam. Enquanto no mito e na religião ambos revivem por meio de ritual e em tempo-linear, do antes ao agora, já o tempo-origem se cristaliza pela repetição sobre como surgiram seres e entidades primordiais para dado segmento de envolvidos.
Sobre o princípio da vida e dos tempos, muito se escreveu, em especial a chamada Teogonia do poeta grego Hesíodo, que viveu no século 8ºa.C.Versa sobre certo vazio primitivo, o Caos e o despontar de Geia, a Terra protetora com imensos seios, e Eros, a atração amorosa. Entre os descendentes diretos destes se encontra Urano, o Céu, a gerar Cronos, o Tempo, que, segundo profecia de Geia e Urano, seria destronado por um filho, daí devorar todos. Reia, sua mulher por meio de ardil faz sobreviver Zeus. Este se junta a Mnemosine, a memória, aparecendo as Musas, que seguem as várias formas de saberes artísticos e científicos.
Nesse intricado começo, bem e mal se revezam nos escritos, porém, inúmeros troncos linguísticos, como o tupi-guarani de que proviemos, prescindiram da escrita, admirando muito mais a oralidade e o relato entranhado na memória, individual e coletiva. As lendas e os mitos explicam situações, mas se alteram em cada etnia, embora na prática o tempo seja regido, contado, medido e calendarizado pelo ritmo da natureza, a orientar a caça, corte e semeadura de plantas, movimento das águas, estrelas e garantia para a preservação da prole e da espécie.
Culturas milenares praticam ritos aos mortos e antepassados para suscitar a própria duração da espécie, num tempo-circular e ilimitado. A memória destitui o tempo-finito, responsável pela morte e, na medida em que repetem atitudes dos deuses, se apoderam da terra, que então adquire materialidade. Ontem como na atualidade a Memória domina a cena e hoje se dissemina em instituições, monumentos, edificações, aparelhos e na tecnologia. Ampliar ou perder memória se encontra entre os pesadelos e preocupações do presente.
Desde eras distantes, a Memória nutre-se de dados, imagens e esquecimentos, bem como, pela singularidade e pluralidade de aparições, logo, se estabelece como algo dinâmico, sempre em construção. Assim também, o Tempo e as variadas representações podem ou não estar vinculados ao espaço, embora hoje se apresente tempo/espaço como indissociáveis. Note-se a vertigem das comunicações no chamado tempo-real, em que assistimos, aqui e agora, aos temas contundentes como exílio, vida e morte por meio de tela, há pouco inimagináveis
A Revista ARA e o Grupo Museu/Patrimônio buscam ir além do clichê e entender esse par na chave de agentes preservadores de formas exponenciais retiradas da natureza e/ou do circuito comercial; também procuram ampliar a fruição de acervos, superando o simples deleite ante o raro, belo e singular. Aqui se buscam saberes, formulados pelo humano e distante de sonhá-los como fetiche e campo de reserva para uns em detrimento de outros.
Acolher e dialogar no plural pode desvelar amplitude em trocas e desejo de ampliar cercas destes tempos, para semear outras memórias. A Revista ARA inaugural ao tratar OBJETO tentou concretizar tal postura e se expor, com estudos de membros a incluir o Conselho Editorial, dentro das bases aqui propostas. Dessa interdependência e abrangência existente nos conceitos de tempo e memória, a Revista ARA espera obter diálogo e adesões que ofereçam a possibilidade de debates, confrontos e trocas transdisciplinares.
Aguardamos a oportunidade de conhecer a sua inquietação, manifesta na produção recente e inédita e assim unir diversidade, troca e áreas cognitivas, na esperança de se constituir uma plataforma aberta e distinta do que se encontra nestes tempos. Pelo Grupo Museu/ Patrimônio da FAU/USP, Maria Cecília França Lourenço e Anna Maria Abrão Khoury Rahme.
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