Seminário Sistemático

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“Visões sobre a Estética”  

Adrienne Firmo

Seminário referente a diferentes abordagens do termo “estética” ao longo da história da filosofia, apresentado, no ano de 2014, para o grupo Museus / Patrimônio, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

Os ensaios em estudo visavam a aproximação filosófica da matéria, sendo eles “De olhos vendados”, de Adauto Novaes, “Sombra e Luz em Platão”, de Gerard Lebrun, “Poética do pensamento”, de Benedito Nunes, e no texto introdutório de Hans-Georg Gadamer à “Origem da obra de arte”, de Martin Heidegger.

A estética foi observada a partir de sua consideração como objeto de interesse e análise, sob as mais diversas óticas teóricas e filosóficas, desde seu estabelecimento como vocábulo e disciplina, no século XVIII[1], a partir dos escritos de Alexander Gottlieb Baumgarten[2] e Immanuel Kant[3]. A escolha dos textos deveu-se a suas abordagens específicas e concentradas do tema, questionado em cada um deles em diferentes aspectos e nem sempre de maneira diretamente relacionada à esfera artística. Contudo, considerados em conjunto, permitiram a elaboração de um fundo problemático a partir do qual foi possível o debate de tópicos pertinentes ao universo artístico que interessam ao grupo de estudos.

Adauto Novaes trata exatamente da separação entre o sensível e o inteligível, que levou à hegemonia da razão sobre a sensibilidade, e da possibilidade da reunião de ambas as formas de apreensão do mundo elaborada pela fenomenologia. Gerard Lebrun examina, no próprio platonismo – germe clássico da bipartição sensível e inteligível, com valorização do segundo termo –, a experiência de chegada ao conhecimento como fundamentada primeiramente na percepção sensória, por meio de sua interpretação do mito da caverna narrado por Platão na República. Benedito Nunes propõe sua leitura da filosofia heideggeriana em que a relação com a obra de arte surge como forma de conhecimento. A apresentação de Hans-Georg Gadamer ao trabalho de Heidegger contribui no texto à elucidação de inúmeros pontos do pensamento heideggeriano.

O objetivo do seminário foi estabelecer relações entre as discussões sobre estética a partir do tema da separação entre as experiências sensível e inteligível – verificável na filosofia desde o mundo helênico e acentuada pelas especializações científicas no correr da história do saber humano –, as tentativas de recuperação de sua unidade – sobretudo pela hermenêutica heideggeriana e pela fenomenologia – e o universo da arte. Nele não se pretendeu adentrar a noção de estética, como pensada a partir de Kant ou Baumgarten, mas deter-se nas indagações mais próximas ao conceito dos antigos e outros pensadores que recuperaram a discussão sobre a separação entre sensível e inteligível, por acreditar que é este um dos problemas, ainda, relevantes ao se falar sobre estética como aquela percepção sensível sobre arte, não para discutir exatamente o que venha a ser sensível e inteligível, se existe ascendência de um sobre outro, mas sim para um mapeamento da discussão, que leve à compreensão e interpretação de questões, neste caso, do universo artístico contemporâneo.

Em primeiro lugar foi levantada a dicotomia clássica entre sensível e inteligível e a busca de sua restauração pela fenomenologia, a partir do texto de Novaes. Em seguida, discorreu-se a respeito dessas instâncias do conhecimento como experiências propedêuticas, entendidas como maiêuticas[4], e suas transformações no indivíduo, ao ser feita a leitura de Lebrun. Finalmente, pensou-se na interpretação e hermenêutica como princípios da experiência, a partir da primeira metade do texto de Nunes e da apresentação feita por Gadamer da obra heideggeriana.

 

Bibliografia

GADAMER, Hans-Georg. “Para introdução”, in HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte [tradução, comentário e notas de Laura de Borba Moosburguer]. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2007, p. 66-79 [Dissertação de mestrado defendida na Universidade Federal do Paraná, 2007].

LEBRUN, Gerard. “Sombra e luz em Platão”, in O Olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 21-30.

NOVAES, Adauto. “De olhos vendados”, in O Olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 9-20.

NUNES, Benedito. “Poética do pensamento”, in Artepensamento. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, p. 389-409.

TALON-HUGON, Carole. L’esthétique. Paris: Presses Universitaires de France, 2008.

 

[1] Sobre a história e teorias da estética, ver: TALON-HUGON, Carole. L’esthétique. Paris: Presses Universitaires de France, 2008.

[2] Alexander Gottlieb Baumgarten propõe o substantivo em latim aesthetica como a ciência do mundo sensível relativa ao conhecimento de um objeto, em suas Meditações filosóficas, de 1935, e, em seguida, em alemão, die Äesthetik, em Aesthetica, de 1750.

[3] Conquanto as reflexões de Immanuel Kant, a respeito da particularidade do juízo estético, sejam avaliadas por estudiosos de sua obra como não debruçadas sobre a arte e o fazer artístico, é verificável a concordância quanto a identificar em Kant o ponto inicial para as considerações verdadeiramente filosóficas acerca da arte, além de sua inegável contribuição para o reconhecimento da estética como disciplina filosófica. Neste sentido é possível traçar um horizonte de interesse da estética, que se inicia com Baumgarten e Kant no século XVIII e culmina no sistema estético de Friedrich Hegel no século XIX.

[4] Maiêutica, do grego maieutike, significa o ato de parturejar, trazer à luz. Sócrates, filho de parteira, acreditava estar destinado a, como a mãe, trazer à luz, em seu caso, não indivíduos, mas ideias, assim, introduziu o termo na história do pensamento como o exercício de fazer nascer juízos e conceitos.

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