CARTA ABERTA À COMUNIDADE MUSEAL BRASILEIRA | DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS 18 de maio de 2020

Acesse a carta no link do ICOM

CARTA ABERTA À COMUNIDADE MUSEAL BRASILEIRA | DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS 18 de maio de 2020

Estamos celebrando o Dia Internacional de Museus 2020, com o tema Museus para igualdade: diversidade e inclusão, em meio ao pico da pandemia da COVID-19 no Brasil. Em plena agitação das ações digitais de museus em todas as regiões do país, pedimos um momento de silêncio. Silêncio pelo sofrimento das perdas e pela angústia das incertezas. Silêncio, como reflexão coletiva, para repensarmos nossos valores comuns e mobilizarmos as mudanças necessárias para uma ação museal capaz de contribuir para a travessia dessa crise global. No Brasil, a crise da COVID-19 é também a manifestação da profunda desigualdade social e da falta de amparo para os trabalhadores em situação precária e para os mais empobrecidos. Os museus – seguindo as orientações da OMS – seguem fechados e enfrentam o desafio das perdas econômicas, as reduções de jornadas de trabalho, as demissões de suas equipes e a fragilização de suas infraestruturas. A maioria dos profissionais está confinada, mas há trabalhadores em funções imprescindíveis, com os de conservação, segurança e manutenção, que seguem arriscando suas vidas para proteger nosso patrimônio. A eles prestamos homenagem e agradecemos especialmente nesta data simbólica. Neste momento de crise, os museus devem tanto buscar proteger os seus profissionais – vários deles técnicos em atividades muito especializadas –, quanto servir de plataforma para as aspirações e as necessidades de suas comunidades e de seus territórios. Nessa travessia em tempos de tormenta, os museus podem – com potência – nos ajudar a resistir, ativando memórias, nos lembrando quem realmente somos e quais são os nossos valores; registrando o presente, os desafios do cotidiano em confinamento, os lutos, e a grande transformação social que estamos vivendo; e projetando o olhar para o futuro que virá após a crise. Esse futuro começa agora, e a solidariedade será imprescindível para a construção de um mundo mais igualitário, diverso e inclusivo. Nessa semana de museus propomos que os museus brasileiros se norteiem pelo princípio da solidariedade, com os seus profissionais, com suas famílias e com a sociedade. Os museus devem repensar sua função diante do impacto econômico e do fosso de desigualdade exposto entre nós, reconhecendo sua responsabilidade para com a regeneração social e cultural brasileira. Não há mais como existir sob o lastro de uma elite social, a espera de financiamento público. Desde a Mesa Redonda de Santiago de Chile, há quase 50 anos, os profissionais de museus da América Latina debatem sistemática e proficuamente a função social dos museus. Na última década, observamos o estabelecimento de pequenos e potentes museus de comunidades vulneráveis, como os museus de favela, quilombolas e indígenas. É nesse contexto, diverso e plural, que o Estado deve proteger e apoiar as instituições museais continuamente, estabelecendo políticas, disponibilizando meios e recursos. A ação dos museus no presente, acolhendo os cidadãos, voltada para o bem-estar coletivo é imprescindível e urgente. Os museus são instituições contemporâneas relevantes e potentes, atuantes na preservação e pesquisa dos seus acervos e na comunicação com seus públicos. Em meio aos profundos impactos desta crise, os museus do Brasil podem, também, liderar uma atuação solidária e cidadã e aprofundar a relação com seus territórios, conectando seus acervos e programas com os desejos, as necessidades e os interesses das comunidades. Precisamos reconfigurar a experiência museal para a comunidade, na comunidade, com a comunidade, de forma socialmente inclusiva e economicamente sustentável. Como aprendemos com Ailton Krenac, para combater esse vírus, para pensarmos um outro mundo possível, temos de ter primeiro cuidado e, depois, coragem.

 

http://www.icom.org.br/wp-content/uploads/2020/05/Carta_aberta_DIM2020.pdf

 

Caros leitores da REVISTA ARA

Caros leitores,
inicialmente e em nome da Equipe e do Conselho Editorial/CE da Revista ARA FAU USP desejo um ano de realizações. Chamo a atenção a alguns aspectos essenciais, uma vez que o prazo final para postagem se encerra em 16 de março de 2020. Assim, textos e imagens para avaliação de mérito, precisam ser postados em condição favorável para valorizá-los na análise de CE e pareceristas. 
 
Sublinho a necessidade do estudo ser enviado com: 1) bibliografia e diagramação fixadas em Modelo ARA  e  versão ABNT,
2) REVISÂO ortográfica e AJUSTE PLENO ao projeto editorial documentado em NORMAS/ARA. 
3) Submissão INÉDITA, a incluir ausência de auto plágio, como antes alertamos em NOTÍCIA, com base em determinações de Agências de fomento. Tenta-se evitar repetir investigação antes exposta, sem trazer novas abordagens conceituais, pesquisa e questões.
 
Ao ser constatada NÃO OBSERVÂNCIA, será devolvido ao autor. Ainda haverá uma última oportunidade: o prazo máximo de dois dias para formatar de acordo com as normas gramaticais, editoriais e bibliográficas, aceitando-se nova Submissão – se corrigida. Caso o conjunto não respeite tais fatores unificadores, com pesar, será devolvido a quem endereçou.
Att
Maria Cecília França Lourenço
Editora Revista ARA FAU USP 

Ecossistema das artes merece as vaias que recebe Entraves tributários e descompromisso da elite barram filantropia no país

Leia na íntegra reportagem da Folha de São Paulo:

http://Reportagem da Folhttps://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/01/ecossistema-das-artes-merece-as-vaias-que-recebe.shtmlha de São Paulo

Vivian Gandelsman

Em artigo publicado originalmente no jornal The New York Times, Michael Massing chama a atenção para o que acontece no MoMA e na maioria das instituições do mundo da arte nos Estados Unidos, nas quais parece só haver espaço para aqueles que dedicam sua vida ao acúmulo de capital e a suas heranças.

Ainda que as condições e a escala dos museus norte-americanos estejam muito distantes da realidade brasileira, podemos encontrar algumas situações comuns entre as duas realidades. No Brasil, contudo, o meio da arte ainda enfrenta questões que, mal ou bem, já foram encaminhadas nos EUA. Aqui, nem sequer se implantou entre as elites —e no arcabouço jurídico— uma cultura da filantropia.

Para Eduardo Pannunzio, pesquisador da FGV Direito SP, a ampliação da filantropia no país passa pelo enfrentamento de dois principais desafios tributários. “Precisamos, de um lado, remover os obstáculos às doações de interesse público”, diz, frisando que “o maior deles hoje é o ITCMD”.

O Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos incide, na maior parte dos estados, sobre doações a instituições culturais. Por outro lado, acrescenta, seria preciso aperfeiçoar nossas políticas de incentivos fiscais, “ainda pouco acessíveis aos cidadãos”.

Pesquisa recente da FGV apontou que apenas 0,45% dos contribuintes do Imposto de Renda que poderiam fazer doações incentivadas utilizam esse benefício.

Mas a questão é anterior: são apenas os mecanismos tributários que dificultam a filantropia ou um descompromisso histórico de nossas elites em relação àquilo que deveria ser considerado interesse público? Celso Furtado (1920-2004) já apontava essa “frouxidão” que, em sua opinião, teria sido herdada de uma classe dirigente aristocrática que jamais abriu mão da privatização dos lucros e da socialização das perdas.

O papel social do museu de arte, como no debate em relação ao MoMA, também nos faz repensar por aqui o lugar privilegiado dos conselheiros. A inclusão de críticos e acadêmicos nos conselhos é urgente para elevar a reflexão interna sobre a função dessas instituições e a alocação de suas verbas.

A opção ao que descreve Massing é o planejamento profissional, dentro do qual outros agentes possam contribuir para o rearranjo do sistema —que se mistura, mas não deve ser confundido com o sistema financeiro. 

Um exemplo nessa linha é o Núcleo de Arte e Direito criado pelo advogado Gustavo Martins no Museu de Arte Moderna do Rio  (MAM) para discutir diversos temas relativos a direitos dos artistas e das instituições.

O assunto tem sido debatido no meio acadêmico. Ciça França Lourenço, que está à frente do Grupo Museu/Patrimônio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (também editora da revista ARA, na mesma unidade) vê, em meio às polarizações políticas, uma crescente inserção do âmbito privado no espaço público. 

A cena universitária pública ofereceria alguma resistência a esse processo “por meio de grupos, estudos, edições, institutos, laboratórios e museus, que persistem na pesquisa crítica, na criação curatorial e em ações formacionais sem paternalismo”, diz ela. 

Neste alvorecer de 2020, está na hora de vaiar a falta de responsabilidade do ecossistema artístico, os salários mal pagos, a escassez de trabalho, a especulação, a falta de regulamentação, a lavagem de dinheiro, os curadores preguiçosos, os diretores corporativos, a segregação que nos cerca.

Que lugares podem ocupar sujeitos de pensamento crítico dentro desse sistema? 


Vivian Gandelsman é pesquisadora independente, consultora e cofundadora dos projetos Artload, timetorethink e DADO

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Maria Cecília França Lourenço

Museu, como parte de patrimônio, constitui instituição a reunir longa série de formas, soluções, técnicas, materiais, inquietações, apreciação, utilidades, espaços e tempos, já que bens foram retirados do meio em que surgiram. Dispostos ao olhar por trabalho humano, obras colecionadas e/ou as integrada a acervos exigem interpretação, inserção em circuito de fruição pública, pesquisa, frequentação, atenção, crítica, respeito ao receptor e viés indagador para se transmutar em patrimônio.

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América Latina em trocas museais: Invenção e Reinvenção

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Maria Cecília França Lourenço

Busca-se analisar razões históricas a inibir a esperada aproximação de atuantes e instituições culturais, no país, com as Américas. Em parte as distâncias culturais se justificam pela dificuldade em se aceitar o que não se é. Defende-se uma troca em que se enfrente e se aprenda com a diferença, desde o interior às vizinhanças, aqui e no Continente com vistas ao diálogo proveitoso entre pares e povos para fortalecimento humano. (Ensaio) Leia mais…

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Seminário Sistemático

VisitaPinacoteca2016-4PEQ

Diferenciação e duração – da filosofia à cultura”

12 de Fevereiro de 2015

Adrienne de Oliveira Firmo

 

Ao se tratar do patrimônio cultural é comum deparar-se com questões referentes a permanências, continuidades e desdobramentos, uma vez que se está falando daquilo que se conserva e coexiste, portanto, de tempo, duração e memória, conceitos seminais da filosofia de Henri Bergson, revisitados por Gilles Deleuze ao enfatizar os conceitos de diferença e duração, fundamentais para a compreensão de tempo e úteis para o entendimento das durações e diferenciações no âmbito da cultura. Dessa forma, o seminário teve como finalidade investigar os conceitos de duração e diferenciação uma vez que mostraram-se intensificadores de questionamentos pertinentes às pesquisas do grupo de estudos.

 

Diferenciação e duração

Para que se conheça o vir a ser de cada coisa, Bergson propõe a intuição[1] como método, pois desvencilharia os dados da experiência das construções e linguagem cotidianas, para que surjam como aquilo que de fato são: dados imediatos, pura qualidade, heterogeneidade e mutação contínua.[2] Sua eficiência adviria da aplicação de regras que orientem a colocação de problemas, a identificação das diferenças de natureza e a solução dos problemas em função do tempo.

Colocar um problema diz respeito a como por questões de veracidade e falsidade e à possibilidade de construir os próprios problemas, bem apresentá-los, inventá-los e criar seus termos.[3] Enquanto que identificar diferenças de natureza permite o discernimento entre aquelas de grau, quantitativas; e de natureza, que determinam o que a coisa é em si mesma.[4]

A percepção coloca o sujeito de súbito na matéria, mas é necessário ultrapassá-la para que se conheça a coisa mesma, em sua diferenciação e duração. Então, a memória atuaria aí, ligando passado e presente e permitindo que algo não seja apenas instantaneidade, mas que dure no tempo. Para que se compreenda e represente aquilo que dura e aquilo que se diferencia de um objeto a outro, requer-se, então, a combinação da percepção do dado material mais a memória, dado temporal.

Solucionar os problemas em função do tempo é supor sua duração ou sua permanência. Para ilustrar as inúmeras diferenças, Bergson apresenta o torrão de açúcar, apreendido como uma diferença de grau em relação a qualquer outra coisa, mas que possui uma maneira de ser no tempo, duração, revelada no processo de sua dissolução, diferindo não só de outras coisas, mas, sobretudo, de si mesmo.

O método intuitivo serve às análises sobre patrimônio cultural ao considerar seus objetos como heterogeneidades em mutação contínua, a fim de que sejam verificadas suas diferenças internas, que os desprendem da homogeneidade e materialidade do utilitário, lançando-os na ação de sua diferenciação e duração, rastreando, ainda, a performação daquilo que neles dura e se diferencia. Abordar o fato cultural sob tal ótica é submetê-lo a uma investigação norteada por seus procedimentos e recursos próprios, as tendências que convergem naquele fato mesmo e como tais inclinações duram, atuam, performam ou se diferenciam em outros fatos culturais.

 

Atualização e dramatização

Diferenciação não é algo estabelecido, mas, em processo. É a colocação em andamento no real daquilo existente em outra instância, ou seja, de um virtual, de maneira que ambos coexistem e se conduzem constantemente de um a outro, num processo de passagem do virtual ao atual, que Deleuze chama de atualização, o responsável pela singularização e multiplicidade dos entes.

É necessário diferenciar o par “virtual-atual” do “possível versus real”, em que o possível pode vir a ser, mas nada muda nele no processo de realização; e do potencial versus atual, em que o processo é de atualização, havendo relação direta entre ambos. Para que a atualização não seja só a culminação de uma potencialidade determinada, é preciso que ela se torne dramatização, que uma diferença se acrescente ao evento atual – que não advenha de uma essência, mas, de um círculo problemático, como no caso em que a semente não é o poder vir a ser árvore ou a árvore não é a realização do vir a ser da semente, mas virar árvore é um dos problemas da semente.

No caso de um objeto cultural, pode ele ser considerado como lugar da performação, espaço dramático, que acontece de modo problematizante de si, de sua esfera e do mundo. É certo que não surge de pronto, como é certo que não se esgota em si mesmo, advém carregado de ânsias que se diferenciaram em tentativas, propostas e questionamentos em diversos momentos históricos e culturais, sendo possível presumir que duram em performação.

 

Bibliografia

BERGSON, Henri. Matière et mémoire: essai sur la relation du corps à l’esprit. Paris: Quadrige/Presses Universitaires de France, s.d. [Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espírito (trad. Paulo Neves). São Paulo: Martins Fontes, 1999].

DELEUZE. Gilles. Le bersonisme. Paris: Quadrige/Presses Universitaires de France, 1966 [Bergsonismo (trad. Luiz B. L. Orlandi). São Paulo: Editora 34, 1999].

_______________. “O atual e o virtual”, in Éric Alliez. Deleuze filosofia virtual. (trad. Heloísa B.S. Rocha). São Paulo: Editora34, 1996, p. 47-57.

­­_____________. “Bergson, 1859-1941 (trad. Lia de Guarino), in LAPUJADE, David (org.) / ORLANDI, Luiz B. L. (org. da eb. Brasileira). A ilha deserta. São Paulo: Iluminuras, 2010, pp. 33-46.

_____________. “A concepção da diferença em Bergson” (trad. Lia Guarino; Fernando Fagundes Ribeiro), in LAPUJADE, David (org.) / ORLANDI, Luiz B. L. (org. da eb. Brasileira). A ilha deserta. São Paulo: Iluminuras, 2010, pp. 47-72.

_____________. “O método de dramatização” (trad. Luiz B. L. Orlandi), in in LAPUJADE, David (org.) / ORLANDI, Luiz B. L. (org. da eb. Brasileira). A ilha deserta. São Paulo: Iluminuras, 2010, pp. 129-54.

KOBOL FORNAZARI, Sandra.“O bergsonismo de Gilles Deleuze”, in, revista Trans/Form/Ação, 27 (2), 2004, pp. 31-50.

 

[1] Conforme a explicação de Gilles Deleuze, a intuição, que é o método do bergsonismo, “não é um sentimento nem uma inspiração, uma simpatia confusa, mas um método elaborado, e mesmo um dos mais elaborados métodos da filosofia. Ele tem suas regras estritas, que constituem o que Bergson chama de precisão em filosofia (DELEUZE, Gilles. Bergsonismo. São Paulo: Editora 34, 1999, p. 7; grifo do autor).

[2] A apresentação de aspectos de uma filosofia da diferença, conforme concebida por Bergson e retomada por Deleuze, tem, neste ponto, a intenção de aplicar elementos metodológicos e conceituais às análises de objetos/produtos da cultura, considerados aqui como as demais coisas (objetos, indivíduos, fatos), como puras qualidades, em sua heterogeneidade e transformação constantes.

[3] O problema, se bem apresentado, encerraria em si já sua solução, que viria dos termos, de sua disposição e das condições em que é engendrado; é a aplicação do critério de veracidade e falsidade à apresentação do problema e não apenas à sua solução. Havendo, então, dois tipos de falsos problemas: os inexistentes – como as questões do não ser, da desordem e do possível – ou seja a negação daquilo que é; e os mal apresentados, que tratam as misturas de naturezas, dos mistos mal analisados (Deleuze, 1999, p. 8-14)

[4] As diferenças de grau são matéria e extensão; pressupõem espaço, de modo que é preciso realizar a divisão do misto espaço e duração (tempo). Um exemplo de misto a ser separado seria a representação corrente de tempo, que é penetrada pelo espaço, sendo, necessária para sua compreensão a cisão entre aquilo que é pura duração e pura extensão, para que se deixe de ver as diferenças de grau onde há diferenças de natureza.

Seminário Sistemático

VisitaPinacoteca2016-3PEQ

“Visões sobre a Estética”  

Adrienne Firmo

Seminário referente a diferentes abordagens do termo “estética” ao longo da história da filosofia, apresentado, no ano de 2014, para o grupo Museus / Patrimônio, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

Os ensaios em estudo visavam a aproximação filosófica da matéria, sendo eles “De olhos vendados”, de Adauto Novaes, “Sombra e Luz em Platão”, de Gerard Lebrun, “Poética do pensamento”, de Benedito Nunes, e no texto introdutório de Hans-Georg Gadamer à “Origem da obra de arte”, de Martin Heidegger.

A estética foi observada a partir de sua consideração como objeto de interesse e análise, sob as mais diversas óticas teóricas e filosóficas, desde seu estabelecimento como vocábulo e disciplina, no século XVIII[1], a partir dos escritos de Alexander Gottlieb Baumgarten[2] e Immanuel Kant[3]. A escolha dos textos deveu-se a suas abordagens específicas e concentradas do tema, questionado em cada um deles em diferentes aspectos e nem sempre de maneira diretamente relacionada à esfera artística. Contudo, considerados em conjunto, permitiram a elaboração de um fundo problemático a partir do qual foi possível o debate de tópicos pertinentes ao universo artístico que interessam ao grupo de estudos.

Adauto Novaes trata exatamente da separação entre o sensível e o inteligível, que levou à hegemonia da razão sobre a sensibilidade, e da possibilidade da reunião de ambas as formas de apreensão do mundo elaborada pela fenomenologia. Gerard Lebrun examina, no próprio platonismo – germe clássico da bipartição sensível e inteligível, com valorização do segundo termo –, a experiência de chegada ao conhecimento como fundamentada primeiramente na percepção sensória, por meio de sua interpretação do mito da caverna narrado por Platão na República. Benedito Nunes propõe sua leitura da filosofia heideggeriana em que a relação com a obra de arte surge como forma de conhecimento. A apresentação de Hans-Georg Gadamer ao trabalho de Heidegger contribui no texto à elucidação de inúmeros pontos do pensamento heideggeriano.

O objetivo do seminário foi estabelecer relações entre as discussões sobre estética a partir do tema da separação entre as experiências sensível e inteligível – verificável na filosofia desde o mundo helênico e acentuada pelas especializações científicas no correr da história do saber humano –, as tentativas de recuperação de sua unidade – sobretudo pela hermenêutica heideggeriana e pela fenomenologia – e o universo da arte. Nele não se pretendeu adentrar a noção de estética, como pensada a partir de Kant ou Baumgarten, mas deter-se nas indagações mais próximas ao conceito dos antigos e outros pensadores que recuperaram a discussão sobre a separação entre sensível e inteligível, por acreditar que é este um dos problemas, ainda, relevantes ao se falar sobre estética como aquela percepção sensível sobre arte, não para discutir exatamente o que venha a ser sensível e inteligível, se existe ascendência de um sobre outro, mas sim para um mapeamento da discussão, que leve à compreensão e interpretação de questões, neste caso, do universo artístico contemporâneo.

Em primeiro lugar foi levantada a dicotomia clássica entre sensível e inteligível e a busca de sua restauração pela fenomenologia, a partir do texto de Novaes. Em seguida, discorreu-se a respeito dessas instâncias do conhecimento como experiências propedêuticas, entendidas como maiêuticas[4], e suas transformações no indivíduo, ao ser feita a leitura de Lebrun. Finalmente, pensou-se na interpretação e hermenêutica como princípios da experiência, a partir da primeira metade do texto de Nunes e da apresentação feita por Gadamer da obra heideggeriana.

 

Bibliografia

GADAMER, Hans-Georg. “Para introdução”, in HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte [tradução, comentário e notas de Laura de Borba Moosburguer]. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2007, p. 66-79 [Dissertação de mestrado defendida na Universidade Federal do Paraná, 2007].

LEBRUN, Gerard. “Sombra e luz em Platão”, in O Olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 21-30.

NOVAES, Adauto. “De olhos vendados”, in O Olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 9-20.

NUNES, Benedito. “Poética do pensamento”, in Artepensamento. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, p. 389-409.

TALON-HUGON, Carole. L’esthétique. Paris: Presses Universitaires de France, 2008.

 

[1] Sobre a história e teorias da estética, ver: TALON-HUGON, Carole. L’esthétique. Paris: Presses Universitaires de France, 2008.

[2] Alexander Gottlieb Baumgarten propõe o substantivo em latim aesthetica como a ciência do mundo sensível relativa ao conhecimento de um objeto, em suas Meditações filosóficas, de 1935, e, em seguida, em alemão, die Äesthetik, em Aesthetica, de 1750.

[3] Conquanto as reflexões de Immanuel Kant, a respeito da particularidade do juízo estético, sejam avaliadas por estudiosos de sua obra como não debruçadas sobre a arte e o fazer artístico, é verificável a concordância quanto a identificar em Kant o ponto inicial para as considerações verdadeiramente filosóficas acerca da arte, além de sua inegável contribuição para o reconhecimento da estética como disciplina filosófica. Neste sentido é possível traçar um horizonte de interesse da estética, que se inicia com Baumgarten e Kant no século XVIII e culmina no sistema estético de Friedrich Hegel no século XIX.

[4] Maiêutica, do grego maieutike, significa o ato de parturejar, trazer à luz. Sócrates, filho de parteira, acreditava estar destinado a, como a mãe, trazer à luz, em seu caso, não indivíduos, mas ideias, assim, introduziu o termo na história do pensamento como o exercício de fazer nascer juízos e conceitos.

Habitaculum

HabitaculumAbertura

Márcia Sandoval Gregori

A casa do homem pode ser o universo, a floresta, a cidade, uma oca multifamiliar ou uma habitação unifamiliar típica da sociedade ocidental. Mas sua significação de aconchego, proteção e de pertencimento está presente em qualquer dos exemplos. A casa é o espaço habitado e conhecido. No mundo ocidental, é a individualidade que se expressa diante da rua e do espaço público da cidade. (Artigo) Leia mais…

 

Musa Impassível: o destino mítico no processo de musealização de uma obra

Microsoft Word - Anna Rahme.doc

Anna Maria Rahme

Em 13 de dezembro de 2006, algo incomum acontece: uma musa deixa o cemitério e se dirige para o museu. Aquela escultura trasladada denomina-se Musa Impassível e a instituição é a Pinacoteca do Estado de São Paulo. A obra, uma Alegoria à Poesia em homenagem à poetisa Francisca Júlia, esteve implantada desde 1920 no Cemitério Araçá e agora foi reproduzida em bronze. (Artigo) Leia mais…