Seminário Sistemático

A qualidade da experiência do visitante nos museus de arte

Philip Wright

VERGO, Peter (ed). The New museology.  London, Reaktion Books, 1997 p. 119

Amanda Saba Ruggiero

23 de julho de 2016

O texto presente é um fichamento para estudo do artigo de Philip Wright intitulado “A qualidade da experiência do visitante em museus de arte” capítulo 7 p. 119 , que compõe a coletânea de textos editada por Peter Vergo, The New Museology, 1989 .

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Seminário Sistemático

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“Observações sobre o 34º Panorama da Arte Brasileira – Da pedra, da terra, daqui. Museu de Arte Moderna de São Paulo, à luz de Walter Benjamin e Hal Foster” 

10 de Novembro de 2015

Adrienne Firmo

Com a finalidade de aliar os estudos teóricos às investigações e análises acerca do ambiente museal e expositivo contemporâneo, o seminário promoveu a discussão acerca do 34º Panorama da Arte Brasileira – Da pedra, da terra, daqui, a partir da leitura dos textos “O autor como produtor”, de Walter Benjamin, e “O artista como etnógrafo”, de Hal Foster, considerando as escolhas curatoriais bem como seus textos oficiais, depoimentos dos curadores e repercussão na mídia impressa.

O Panorama

O Panorama da Arte Brasileira, desde sua primeira edição em 1969, é considerado uma das mais significativas mostras da produção artística coetânea, constituindo-se, ao longo dos anos, muito mais como um espaço de discussão sobre amplos aspectos do ambiente artístico, expositivo e museal que simples levantamento da arte do período.

Mantendo a tradição analítica desse conjunto de exposições, Da pedra, da terra, daqui, propôs-se como questionamento da brasilidade por meio do rompimento com a visão histórica e etnocultural da produção artística, realizado pela mobilização da arte contemporânea por peças líticas, supostamente ignoradas, produzidas por povos sambaquieiros da costa brasileira entre 4.000 e 1.000 a.C., consideradas como portadoras de mistérios e enigmas. O Panorama propôs, dessa forma, uma investigação telúrica oriunda de tais objetos extraídos, de acordo com os curadores, do inconsciente de um Brasil intemporal e sem fronteiras definidas, colocando em curso o diálogo entre formas, lugares e tempos diversos, escolhendo, portanto, no lugar do novo e de futuro incerto, voltar-se para um passado irrevelado.

Fundamentos teóricos

Walter Benjamin em “O autor como produtor” trata da autonomia artística, que encontraria seu fim na obediência a tendências, determinadas, segundo o autor, por questões de interesse ou luta de classe, só podendo ser ultrapassas pelo artista produtor quando este deixa de apenas se posicionar quanto às relações de produção para se perguntar como ele mesmo se situa dentro dessas relações, que seria a pergunta pela função exercida pela obra no interior das relações literárias de produção de uma época a partir da técnica da obra.

Hal Foster, por sua vez, identifica a ascendência da etnografia sobre a produção artística e a tendência desta a voltar-se para políticas culturais de alteridade. Destaca pressupostos do modelo do artista produtor que ainda persistem, como as relações entre as transformações políticas e artísticas, que são transferidas, da área da economia para a da identidade cultural, que será o lugar a partir do qual a cultura dominante será transformada. Identifica o deslocamento da substituição da arte pela política para a da política pela teoria etnológica. Se nos inícios do século XX o outro social está no proletariado, na passagem do milênio, estaria no outro cultural.

A suposição do artista como aquele que detém acesso à alteridade, estaria aliada a uma fantasia primitivista de que este outro acessado detém um psiquismo primário desafiador das convenções repressoras e situa-se num lugar privilegiado de verdade política, desviando a política do aqui agora para este outro transcendental. Operando aquilo que chama de teatro de reflexões e projeções, uma vez que a própria antropologia funda-se no mito de mútua projeção de espaço e tempo, ao conformar o além em outrora e o mais remoto no mais primitivo.

Se o artista, tornado etnógrafo, é o exemplo da reflexividade formal, por ser um leitor consciente da cultura como texto, torna-se também o reflexo do ego ideal do antropólogo e sua reconstrução como intérprete, chegando à reconstrução do outro cultural também como reflexo do antropólogo, crítico ou historiador, na projeção tanto textualista como na esteticista, levando, assim, à ideologia do texto e à recodificação da prática como discurso. Antropólogos desejam explorar o modelo textual, artistas e críticos anseiam ao trabalho de campo em que teoria e prática pareçam conciliadas.

Tal discurso fendido permitiria resolver esses modelos contraditórios magicamente: no disfarce do semiólogo cultural e do pesquisador de campo contextual, que seriam a continuação e condenação da teoria crítica; e na relativização e recentramento do sujeito. Para Foster, este intercâmbio e teatro de projeções e reflexões dá lugar a dois problemas, um metodológico e outro ético. A dúvida de que se os estudos culturais e história imiscuídos no modelo único etnográfico podem ser de fato interdisciplinares. E se a projeção de uma prática ideal sobre o campo do outro, solicitado a refleti-la como se fosse ela autenticamente autóctone é politicamente inovadora.

Questões levantadas em discussão

A partir do estudo dos textos citados foi colocada a pergunta sobre o significado do Panorama da Arte Brasileira em sua edição de 2015 por optar em dinamizar a arte atual a partir da produção de um passado remoto e misterioso. Por um lado, coloca-se a averiguação sobre a expansão da esfera curatorial, que passou a abranger outras áreas de saber e cultura que vão muito além da esfera artística. Para Claude Lévi Strauss, pretender reconstruir um passado do qual se é impotente para atingir a história é o drama da etnologia. No caso da mostra, este não cabe apenas aos etnólogos ou aos artistas, conforme notado por Hal Foster, mas à curadoria e/ou da instituição, transferindo, assim, a tendência à busca e acesso à alteridade para a esfera ainda mais textual e teórica que artística, à curatorial.

Por outro, respostas podem ser buscadas nos limites da linguagem. Se a arte atual, tão refratária a categorizações e léxico compartilhado, exige para si mesma uma vivência imediata e intraduzível, pode conduzir ao mutismo transcendente proposto por Luigi Witgenstein no Tratatus Lógico Filosóficus, da máxima do sobre o que não se pode falar, deve-se calar, recorrer a um passado tão remoto quanto desconhecido, pode conduzir à experiência mística, tal qual definida em sua raiz grega, que seria o fechar olhos e boca para se adentrar um mistério.

Ambas as hipóteses, no entanto, encontram-se numa encruzilhada paradoxal, de maneira semelhante aos problemas medológicos e éticos colocados por Hal Foster acerca dos espelhamentos entre antropologia, etnologia e arte, ou seja, problemas metodológicos e éticos. A curadoria contemporânea, por um lado, coloca-se como produtora de conhecimento acerca não só da arte, mas também de outros aspectos da cultura e da vivência político-social, ao mesmo tempo, em que, por outro, prescinde de uma estrutura linguística, legando a arte à experiência inexplicável e inexprimível. Reconduzindo, assim, à pergunta benjaminiana sobre a função exercida pela obra artística, no caso, exposições, no interior das relações de produção de uma época.

Bibliografia

Textos teóricos

BENJAMIN, Walter Benjamin. “O autor como produtor”, in Obras escolhidas, vol. 1 – Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 196, pp. 120-36.

FOSTER, Hal Foster. “O artista como etnógrafo”, in O retorno do real. São Paulo: Cosac Naify, 2014, pp. 159-86.

Textos institucionais

34º Panorama da Arte Brasileira – Museu de Arte Moderna de Sã o Paulo– Da pedra, da terra, daqui (curadoria Aracy Amaral; curadoria adjunta Paulo Miyada; consultoria André Prous). Textos e depoimentos institucionais: “Da pedra, da terra, daqui” e “Dois tempos, uma exposição”, in Livreto Moderno MAM – Especial Panorama; texto de parede e no sit, vídeo institucional; áudio-guia.

Mídia impressa

FORTUNA, Maria. Entrevista com Aracy Amaral, in O Globo, 13.09.14.

GONÇALVES FILHO, Antonio. “MAM faz de seu Panorma uma prova de qua a arte é atemporal”, in O Estado de S. Paulo, 16.09.15.

­­­_______________. “O arcaico é o moderno no 34º Panorama da Arte Brasileira do MAM”, in O Estado de S. Paulo, 13.10.15.

MARTÍ, Silas. “Radical, Panorama da Arte Brasileira do MAM terá só seis artistas”, n Folha de São Paulo, 11.02.15.

MOLINA, Camila. “Berna Reale fala do tema da violência em suas obras para o 34º Panorama do MAM”, in O Estado de S. Paulo, 13.10.15.