Visita Técnica Exposição 4 Contemporâneos.

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Visita Técnica Exposição 4 Contemporâneos. Regina Lara, Norberto Stori, Marcos Rizzoli e Teresa Almeida. Galeria de arte A Hebraica . Visita técnica realizada em 21 de junho de 2018, Conduzida por Regina Lara. São Paulo-SP ” order_by=”sortorder” order_direction=”ASC” returns=”included” maximum_entity_count=”500″]

VISITA TÉCNICA Monumento e Mausoléu ao soldado constitucionalista de 32

VISITA TÉCNICA 

Monumento e Mausoléu ao soldado constitucionalista de 32

Data: 03/05/2018

O Grupo Museu/Patrimônio realizou visita técnica ao Monumento e Mausoléu ao soldado constitucionalista de 32 (1937-70), situado no Parque Ibirapuera, agendada por Anna Maria Rahme, participante do mesmo grupo de pesquisa. A data coincidiu com a realização do seminário sobre o Brasil Caipira, sétimo capítulo do vídeo O povo brasileiro (2000), sobre a obra de Darcy Ribeiro (1995). A seleção do local pretendeu evidenciar ao grupo as questões da mitificação da figura do bandeirante, ao lado de outros inúmeros símbolos representativos de uma dada paulistanidade buscada pelos realizadores da homenagem aos “heróis da revolução de 32”. Símbolos estes, intensamente, aprofundados em tese de doutorado da autora, pela FAUUSP (2005): Inovar e conservar: a ambiguidade no Monumento Constitucionalista.

O memorial, desde sua implantação e edificação, até os mosaicos, escultura e ossários revelam a inegável intenção de criar um reduto sagrado e, portanto, intocável, propósito aceito pelo autor Galileo Emendabili, vencedor do concurso público de 1937. Iniciando por relacionar a edificação obedecer à numerologia maçônica, especificamente, ao número nove, em clara alusão à data da eclosão do Movimento, o 9 de Julho – altura do obelisco, degraus da entrada, número de arcos e área interna de cada ambiente entre outros – mas, também, pelo uso das formas consagradas na Antiguidade Oriental e Ocidental.

A sagração do lugar é materializada pelo obelisco, que a população escolheu para nomear o monumento Obelisco do Ibirapuera, esta lâmina da “espada que mãe terra quando ao seu seio desembainha”, cantada em verso de Guilherme de Almeida e completada pelas alças ­- as duas entradas laterais -, em cuja base, na parte interna do mausoléu, acolhe o Herói Jacente – homenageando explicitamente os cinco “jovens mártires da Revolução”: Martins, Miragaia, Drausio, Camargo – MMDC – e Paulo Virgínio. Acima da escultura, nas paredes da parte oca ogival (não por acaso) do obelisco, situam-se dois portais com relevos em bronze: a Porta da Vida e a Porta da Glória, encimadas por um anel de mosaicos que celebra os desbravadores do “solo bandeirante” e o trabalhador paulista, erigindo o “altar da pátria” com o painel Classes Trabalhadoras de São Paulo.

Além desses altares laicos, os espaços circundantes são coroados por três altares a celebrarem a mistificação do Estado, posicionando-o ao lado das três passagens mais importantes da vida de Cristo. São mosaicos venezianos em minúsculas peças vitrificadas, de 1950, cuja intencionalidade está presente já nas denominações dadas por Emendabili: Natividade e Fundação da Cidade de São Paulo; Crucificação e Revolução Constitucionalista de 32; Ressurreição de Cristo e Promulgação da Constituição de 1934. O maior monumento em homenagem à luta constitucionalista, elevado numa das áreas de maior visibilidade – na confluência virtual entre as avenidas 23 de Maio e Pedro Álvares Cabral, no bairro do Ibirapuera – da maior cidade brasileira, capital do Estado de São Paulo, cumpre, portanto, a sagração do movimento, bem como sua eternização na memória paulista.

Os bandeirantes, identificados como Paulistas, em toda a América do Sul, surgem aqui como heróis ao lado dos soldados e intelectuais, tanto nos murais, quanto na estela em mármore à entrada do Mausoléu, na qual está gravada a Ode ao Bandeirismo, de Guilherme de Almeida, ao lado da Oração ante a última trincheira, do mesmo autor. No Monumento e Mausoléu, somam-se a sacrifício e conquistas em enaltecimento simbólico, anunciando a continuidade da luta pelo território e pela perenidade dos ideais da Paulistânia, apontada por Darcy Ribeiro como cultura surgida à época colonial, do movimento separatista Pátria Paulista, de 1887, e coroada pelos esforços da Sociedade Veteranos de 32 – MMDC, no século XX.

 

ICOM Brasil elaborou, com a colaboração dos seus Conselheiros, uma nota técnica sobre a MP nº 850/2018

Prezados membros do ICOM Brasil, 
 
A tragédia do Museu Nacional e a assinatura da Medida Provisória nº 850/2018 no dia 10 de setembro último, que extingue o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), dividindo suas atribuições entre uma agência de direito privado – Agência Brasileira de Museus (ABRAM) – e uma Secretaria de Museus e Acervos, vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), definem um momento de grande atenção e engajamento de todos nós profissionais de museus.
Conforme comunicados anteriormente divulgados, o ICOM Brasil reitera a solidariedade e apoio ao Museu Nacional e a perplexidade diante da Medida Provisória editada pela Presidência da República. Desde 2009, o IBRAM é a instância pública reconhecida pelo setor museológico, responsável pela elaboração e implementação de políticas públicas para o setor, a partir de uma construção participativa e democrática, abrangendo os mais de 3500 museus brasileiros. Nesse sentido, qualquer proposta de transformação do setor museológico brasileiro não pode se dar sem consulta prévia ao IBRAM e às demais instâncias do setor, de forma unilateral. No compromisso de ajudar a subsidiar as discussões do setor museológico na construção de políticas públicas participativas e efetivas visando a qualificação dos museus brasileiros, o ICOM Brasil elaborou, com a colaboração dos seus Conselheiros, uma nota técnica sobre a MP nº 850/2018, que segue anexada.
 
Cordialmente,
 
Renata Motta
Presidente do ICOM Brasil
 

Acesse aqui  NOTA DO ICOM

O ICOM Brasil está acompanhando ativamente as alterações do setor museológico no âmbito federal.

O ICOM Brasil está acompanhando ativamente as alterações do setor museológico no âmbito federal. O Governo Federal não consultou previamente as entidades do setor e somente expediu convite para o evento de assinatura da Medida Provisória que transforma o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) em Agência Brasileira de Museus (ABRAM), que ocorreu na tarde deste 10 de setembro, no Palácio do Planalto. Dado o desconhecimento dos objetivos do evento, o ICOM Brasil optou por não estar representado pela sua Presidente, mas enviou um representante como observador. Ainda não tivemos acesso ao texto da Medida Provisória, quando poderemos nos posicionar mais detalhadamente e analisarmos o impacto no setor. No entanto, já previamente manifestamos o repúdio à extinção do IBRAM, explicitando o seu importante papel no âmbito do desenvolvimento das políticas públicas para o setor museológico. A partir do acesso às informações mais precisas, contamos com todos os membros do ICOM Brasil e interessados, para uma discussão ampla e mobilização do setor museológico

Quem queimou? 200 Anos de resistência

 Foto: cortesia.

Maria Cecília França Lourenço

Professora Titular Sênior e Líder do Grupo Museu Patrimônio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/ USP, São Paulo, Brasil. mcfloure@usp.br

 

Introdução

“(…) [incêndio] revela uma face contundente sobre o descaso a que estão condenadas as instituições, mesmo quando há uma resistência heroica dos que nelas trabalham.”

Maria Cecília França Lourenço (1999, p.133)[1]

A comunidade museal está em luto ante nova catástrofe a desvelar o lugar discutível assumido pelas instituições científico-culturais, em geral, quando abertas, direcionadas a distintos público em faixa etária e privilégios, em especial os sem espetáculos ou arquitetura reluzente do último criador globalizado. Labaredas dizimaram o museu mais antigo, entre nós – o bicentenário Museu Nacional, situado no Rio de Janeiro, transmutado para esse Palácio ao final do Século XIX.

Resistiu à viagem ao ser trazido parte do alentado acervo pela Imperatriz Leopoldina, talvez imaginando o papel civilizatório que peças salvaguardadas teriam, para aprimorar a vida de populações em geral. Subsistiu à mudança de regime político, após a Proclamação da República e ao leilão, do remanescente, que os mandatários lusos não conseguiram levar, ao serem banidos. Sobreviveu aos esforços para vozes oportunistas, a clamar pela volta anacrônica da monarquia, ditadores, ou acolhimento de resquícios colecionados por postulantes políticos sem representatividade de maiorias.

Escapou a muitas ditaduras, mais identificadas com selas, arreios, coroas, casernas e ordens monocráticas e, por certo, não com apoio de muitos[2]. Também venceu ação depreciativa de reitores e autoridades de plantão, incapazes de entender a importância ética, moral, educacional, simbólica, alegórica, formacional, cultural, científica, histórica, cognitiva, identitária, relacional, entre tantas. Nesse particular, cargos administrativos deploravelmente não garantem compreensão interdisciplinar a docentes, exponenciais em sua área de origem, mas limitados para avaliar e se tornar fruidor habitual de museu, quando se trata de testemunhos materiais de museu, arquivo, biblioteca. Autoridades do executivo apenas visitam em festas, quando isso acontece. Como se divulgou, o último presidente a ao menos visitar o Museu Nacional foi Juscelino Kubitschek, no exercício do cargo entre 1956-61.

Além destes outros profissionais em distintas áreas padecem dessa abstinência e inépcia para captar como cada exposição permanente e/ou temporária advêm de esforços coligados e amplos estudos. Estes e os outros ao viajar visitam museus e se ligam ao ver tragédia como essa. Livros, papeis e peças museicas requerem hipóteses, estudo e pesquisa, capazes de produzir conhecimento e articular conceitos, a partir de emudecidas peças, formas e seres de coleções, como no Museu Nacional. Aqui um enorme diferencial do Museu Nacional, pois, dedicado ao ensino, pesquisa e extensão, com produção impa, esta não se apagará.

Um paralelo se faz necessário: em 7 de julho de 1978, às 23 horas se deu outro marco nefasto para a cultura brasileira: o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro foi emulado em chamas, como registrei na tese de Livre Docência “Museus Acolhem Moderno”, publicada em 1999. Ali também seguiu-se a busca de culpado, então recaindo comodamente no sistema elétrico e anunciadas iniciativas ditas enérgicas. Seguiu-se saldo das preciosidades únicas perdidas, juntamente com lamúrias sobre falta de apoio para renovar pessoal, equipamentos e finanças, sempre recitados.

Quando se instalou na sede do Ministério da Educação e Cultura / RJ, realizou-se uma exposição (1952), sem a presença do então presidente do país, Getúlio Vargas, contendo trinta pinturas, quatro esculturas da coleção, peças emprestadas e laureadas, antes exibidas na I Bienal e de um artista recém falecido (Lourenço, 1999, p.136). Editou-se catálogo e o registro das obras do MAM/RJ se tornou significativo, pois, não havia nem ao menos rol de obras com identificação patrimonial, ou seja, proveniência, medidas, técnica e mostras anteriores, dano ainda frequente em diversas instituições.

Passados 40 anos, a 2 de setembro de 2018 às 19:30 hora, novo acervo, raro, único e insubstituível se viu na mesma condição e, uma vez mais, sem vítimas, felizmente. Diferentemente de outros, produziu inúmeras publicações, boletins, trabalhos científicos em variadas áreas, dissertações, teses, anais de congresso e geração de estudiosos, sejam técnicos ou em outros âmbitos. Inúmeras coisas essenciais, únicas e valiosas se perderam irremediavelmente. No entanto, permanece sim o métodos e práticas de pesquisa, conhecimento documental, arquivístico, bibliográfico e museal, mas particularmente a luta por um país mais democrático e interessado em disseminar conhecimento em variadas áreas. O Museu Nacional resistirá!

 

Referências

LOURENÇO, Maria Cecília França. Museus acolhem Moderno. São Paulo: Edusp, 1999.

Site do Ibram museudodiamante.museus.gov.br/…/nota-do-ibram-sobre-o-incendio-do-museu-nacio/

Site do ICOM/BR www.icom.org.br/

 

Notas

[1] A tese foi defendida na Faculdade Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

[2] Como se observa nos sites, o Conselho Internacional de Museus/ICOM ao se solidarizar e chamar a atenção para necessidade de melhoria de condições técnicas e em infraestrutura, manifestou colaboração de seus membros. O Instituto Brasileiro de Museus/ Ibram propôs formação imediata de força tarefa para se articular recuperação tanto de instalações quanto do acervo.

Quem queimou_ 200 anos de resistência 3_9_18 [Baixe o documento original]